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Mostrando postagens de fevereiro, 2011

O LABIRINTO

Ao olhar para mim você vê o quê? Alguns veem um desafio a vencer. Outros veem um grande obstáculo e desistem de tentar. O difícil cansa. O difícil instiga. Depende do que sopra a alma. Diz a mitologia grega que Dédalo me construiu para aprisionar o minotauro. Uma figura estranha metade homem e metade touro. Jovens eram ofertados regularmente para a criatura, que os devorava. Até que Teseu acabou com essa farra antropofágica e, com uma ajudazinha de Ariadne, conseguiu derrotar o minotauro e sair de mim, vivo. Vejam que perspicácia, não é? Tantos anos e tantos jovens foram mortos pela horrível criatura miscigenada de humano e animal e bastou uma ideia básica: um novelo. Um simples novelo que Teseu foi desenrolando para marcar o caminho de volta. Bingo! Bingo nada! Não acredito nessa história. E olhe que eu tenho moral para afirmar isso. Não tem nada de Dédalo, de Ariadne, de Teseu e muito menos do minotauro. O minotauro é você! Seu vizinho, seu chefe, sua namorada, seu amigo, enfim, qua

O ESPELHO

O espelho estava ali há uma semana, desde a mudança. Ainda não tinha sido fixado na parede. Estava encostado na parede do corredor, que faz comunicação com o quarto de casal. Encostado e inclinado. 'Será que espelho empena se ficar muito tempo inclinado?', pensava Jorge. Infelizmente ele chegava à conclusão que iria ter todo o tempo do mundo para descobrir isso. Uma porque havia acabado de se mudar e não cogitaria ter toda aquela trabalheira em apenas uma semana de casa nova. E outra porque não tinha forças nem mentais, nem emocionais e nem físicas para pregar aquele espelho na parede. Aquele espelho e um bocado de coisas pra fazer. Coisas de mudança. Todos os dias da rotina de Jorge eram os mesmos. Saía cedo para o trabalho. 'Ainda bem que tenho o trabalho para ir!', aliviava-se quando não mais suportava a solidão dentro daquele apartamento. O café da manhã era tomado numa cadeira de praia, em frente à TV, que por sua vez era apoiada em cima de dois caixas de som vel

CORES DA VIDA

PRETO Uma mulher elegante, séria, discreta, sóbria. Um menino triste. Órfão de pai e mãe. Um mendigo na beira da estrada, sob sol escaldante. Um momento de suspense, que antecede uma grande tragédia. BRANCO Uma pomba voando, testemunhando cenas de guerra. Queda d'água de cachoeira no meio da mata. Correr por um imenso algodoeiro. Amanhecer na catedral de Notre Dame de Paris. CINZA Frio na barriga quando se está preso num engarrafamento. Acordar e não ter vontade de se levantar da cama. Alcançar uma promoção e se contentar com ela para sempre. O primeiro dia do ano. VERMELHO Quando o homem olha a sua futura esposa entrar na igreja. Quando o homem olha a sua secretária abrir-lhe um sorriso. Quando a mulher vê o seu marido chorando com o nascimento do bebê. Quando a mulher vê que um antigo namorado está mais conservado do que o marido. VERDE Entrar numa banheira de hidromassagem em meio a sais com fragância de jasm

INSÔNIA

Diz o ditado popular que na horizontal tudo é mais fácil. Mas se esquecem que essa é a posição preferida Dela. Aliás, é só na horizontal que Ela chega. Bem antes do sono, afoita, ousada, chega chegando. Ocupando os espaços vazios sem medo da rejeição, tão peculiar nas pessoas que A carregam. E Ela é carregada não como um peso, mas como um fardo mesmo, um estorvo. Maldita! Maldita mil vezes! Uma vez um homem esbravejou na frente do médico, que lhe dava a penosa notícia da sua inexorável impotência sexual. O homem amaldiçoou a impotência. Mas, não sabia ele que, após essa triste constatação, teria que conviver com uma companheira mais lacerante: Ela. Inteira, disposta a atravessar com ele noites inteiras também. E atravessar noites é sua especialidade. Atravessa as madrugadas reinando absoluta! Sendo odiada, rejeitada, negada e lamentada. Não se importa. Não se importa porque é através da agonia dos outros que ela se mantém de pé, viva, na horizontal. Engraçado como a vida é. Tantos pro