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Mostrando postagens de janeiro, 2012

Ocorrência policial

Uma cena destoante naquela delegacia fétida e cheia de infiltrações nas paredes. Vera Lúcia estava lá, com aqueles sapatos scarpin, um conjunto de saia e blazer vermelho, maquiada, escovada, lavada e enxaguada de tão chique. O escrivão a recebeu como se fosse a primeira-dama. Pareciam velhos conhecidos: - Sente-se, dona Vera, eu mesmo vou tomar o seu depoimento. - Muita gentileza sua, senhor Adamastor. E Adamastor, com toda a sua exímia experiência de tomador de depoimentos, resultado de trinta anos de profissão fazendo só aquilo, pôs-se a digitar o que era relatado pela ilustre depoente: "Faz-se saber, por meio desta ocorrência, que aos 25 (vinte e cinco dias) do mês de fevereiro do corrente ano de 2012 (dois mil e doze) compareceu a esta delegacia a senhora Vera Lúcia Holanda Miranda Martins, brasileira, casada, residente e domiciliada na Rua Perfídia, número 34, bairro dos Algarves, Serra Gaúcha. A referida senhora, caracterizada neste documento como depoente, saía do sa

Pergunte ao Google

Toda dúvida que João tinha Sentava em frente ao computador E danava-se a digitar Era um exímio perguntador Naquela noite em especial Depois de muito procurar Achou uma definição para o amor Tema desse conto Que agora eu vou contar Lá vai João indagar Se o computador sabia O amor significar Em um site achou uma resposta Não muito satisfatória Dizia que o amor Era uma coisa simplória Um negócio besta Que só faz o povo perder Tempo e noites de sono A pensar e a sofrer E enquanto isso o mundo Gira, gira, sem parar E o sofredor, coitado Nem vê a vida passar João voltou para a busca Procurou outro endereço E achou uma resposta E por ela teve um apreço Dizia que o amor é Uma coisa que a gente sente Que doi, doi, até ficar dormente E o coração, maltratado, Desatinado e esfarrapado Deixa o cabra atormentado Até ele ficar demente Essa resposta estava Chegando onde João queria Mas ele continuou a buscar Aquela que ia satisfazer A sua curiosa a

Feche a porta!

Estive pensando com meus botões (que clichê horrível! Mas estive mesmo ensimesmado com eles). Como estava dizendo, estava eu pensando, refletindo, acho que é a crise dos setenta anos. Muitos que estão lendo esse texto agora ainda não chegaram aos 70 anos. Outros, sim. E devem estar contando que eu escreva sobre como chegar aos 70 bem de saúde, ou bem de vida, ou bem de qualquer coisa. Pois eu digo uma coisa a todos, maiores e menores de 70: não é nada disso! Eu cheguei aos 70 anos e estou frustrado. Estou frustrado porque sou um fracassado! Você está lendo um texto de um fracassado na vida! Sou rico, não tenho dívidas que não possa pagar. Aliás, para mim dívida é para quem não pode pagar. Para quem pode é outra coisa que ainda não descobri e acho que vou morrer não sabendo. Além da questão financeira, há outro problema que convivi a minha vida inteira e hoje acho que vou morrer sem saber o que é: resfriado. Dá para acreditar que uma pessoa, no mundo de hoje, cheio de vírus por aí de t

O tempo

Muito se fala de dinheiro Paixão, intriga e traição Mas se esquecem do tempo Que é o maior vilão Vou explicar o porquê Preste atenção para entender O tempo é o elemento Mais democrático que há É igual para todo mundo Dele ninguém pode se safar Para uns passa rápido Anos se igualam a segundos Para outros, se arrasta Parece que parou o mundo Mas uma coisa é certa Tempo bom tem. E ruim, também Tem gente que nem parece Que está envelhecendo Quanto mais o tempo passa A pele está rejuvenescendo Mas em compensação há outros Que correm na frente do relógio Cada dia que eles vivem Parece que viveram um ano E a pessoa vai se transformando Num verdadeiro farrapo humano Mas as pessoas nem ligam Para o tempo que têm a viver Vivem felizes da vida Como se não fossem morrer Arrumam tempo pra tudo Só se esquecem de viver Um dia tem 24 horas E nem tudo dá para concluir Umas oito horas, em média Passamos só a dormir Tem o trabalho, o estudo E sobra tempo

O Réveillon de Juvenal

Festa de gente rico, sabe como é. A gente se sente como que tivesse dez braços e vinte pés. Não sabe onde colocá-los. Eu estava numa dessas na noite de Ano Novo. Roberto, meu amigo, tinha dois convites. Aceitei na hora. Boca livre e do bom e do melhor não é todo dia que aparece pra gente, não é? Foi nessa festa que eu vivi o inacreditável. Nunca imaginei que presenciaria uma cena daquelas. Fiquei chocado. Viviane, a dona da casa, ou melhor, Dona Vivi (os ricos adoram abreviaturas chiques), estava lindíssima. Apesar de quarentona, deixa muita mulher de vinte aninhos "na chõn". Mas, como eu ia falando, a tal da Dona Vivi estava lá, esbanjando charme e simpatia. Eu, pobre Juvenal, só olhando mesmo. Muita areia pro meu caminhão aquela mulher. Mesmo assim, o maridão estava lá. Um fazendeiro de 60 anos, mas de tão acabado parecia ter uns 80. A esposa é uma adolescente perto dele. Mas, sabe como é, dinheiro faz milagres, até fabrica amor! Claro que passaram um monte de coisas pela