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Mostrando postagens de janeiro, 2015

Raimundo

Atrás de óculos e de um bigode, qualquer um esconde os mais recônditos segredos. Rosto sisudo, expressão séria, maxilares travados e tensionados. Assim é Raimundo, que não rima com nada, apenas com ele mesmo. Raimundo é aquele estranho que chama atenção só pela aparência: estranha. Certa vez estava ele no açougue, seriamente, pedindo dois quilos de bisteca: - Dois quilos de bisteca, por obséquio - Por o quê? – Perguntou o açougueiro. - Obséquio. O açougueiro deu um risinho e falou para o cara do despacho: - Corta bisteca aê!!! Dois quilos! Raimundo irritou-se com aquilo. Para ele, um tratamento mais ríspido conversa com a má educação. Mas não ia se trocar no açougue. Preferiu engolir o aborrecimento e dar seguimento à rotina. Pegou a carne e foi para o caixa. Lá, outra bofetada: - Só tá passando se for em dinheiro – Disse a caixa, com cara de poucos amigos. - Mas eu tenho dinheiro aqui. Ia pagar em dinheiro mesmo, senhorita. E a moça do caixa disparou outra:

A brevidade da vida

Quando grandes tragédias acontecem, ou mesmo quando perdemos uma pessoa querida no seio da nossa família, assaltam a nossa mente os pensamentos clichês “não somos nada”, “não sabemos de nada”, “a vida é breve”. Fazendo uma reflexão sobre essa brevidade da vida e do que fazemos dela, chego a uma opinião, bem pessoal, que a vida não é breve, nós é que somos breves. Somos breves quando perdemos o tempo precioso que temos aqui nesta vida, não importando se acreditamos ou não numa vida vindoura, em reencarnação, ressurreição, ou o que for. E geralmente os escorregões morais são os fatores que mais nos roubam o breve tempo que temos, ou melhor, que o tornam inútil. Somos breves quando nos comprazemos da desgraça dos outros, somos breves quando tentamos minar o caminho de quem pensamos ser o adversário, somos breves quando procuramos matar no outro a vontade de andar de cabeça erguida. Mas também há os pequenos escorregões, nem tão graves assim, que dão brevidade ao nosso tempo. Somo

Tempo afiado

Há tempo para tudo já a partir do momento em que nascemos.  Só que entre o nascer e o morrer existe o viver. É aí que o bicho pega. O que fazer com esse enorme intervalo de tempo que temos e que cada vez mais fica maior, levando-se em conta o aumento da expectativa de vida da população? Sem adentrar nos áridos números do IBGE, o fato é: o que fazemos com o nosso tempo é nossa assinatura pessoal.  Em relação ao tempo, podemos dizer que vivemos de ilusões. E a primeira delas é acreditarmos que temos todo o tempo do mundo. E não temos sequer os minutos seguintes. Nós só temos o tempo presente, aquele em que respiramos, aquele em que dizemos “eu te amo”, aquele em que dizemos “Nunca mais” para algo que nos tira do prumo. E seguimos vivendo convictos de certezas, que mudam através dos anos. Outra grande ilusão é a juventude. Quantos, inconscientemente , se comportam como se os 20 anos fossem para sempre, mesmo sem saber que não são?  E à medida que os anos vão passando, parece qu

Regando a horta

A palavra felicidade vem do latim “felix”, que significa “frutuoso”, “fértil”, “fecundo”. Sempre dizem que não existe felicidade completa e sim momentos em que ela se faz presente. Será mesmo? Quando falamos em felicidade, pensamos em coisas boas.  Mas são boas apenas na nossa concepção e na de muita gente. Ganhar uma promoção, passar no vestibular, casar, ter filhos. Claro que tudo isso é positivo para uma grande parte das pessoas. Mas estou falando de outras coisas que poderiam ser boas se encaradas com outros olhos.  Separei duas para nossa reflexão: divórcio e perda de um ente querido pela morte. À essa altura vocês, caros leitores, devem estar achando que eu enlouqueci. Mas explico para você desfranzir o cenho. Nós somos levados a achar bom tudo o que não nos incomoda, tudo o que nos dá conforto e não exige muitos sentimentos para administrar possíveis mudanças que nos chegam. Isso é normal. Afinal, somos humanos e estamos aqui aprendendo, aprendendo sempre. Aprendem até aque