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Mostrando postagens de janeiro, 2011

INSATISFAÇÕES

Tudo o que José queria era casar, ter um casal de filhos, ter um bom emprego e morar num bairro onde o supermercado fosse perto de casa. Conseguiu, mas Maria é estéril. Tudo o que Maria queria era casar, morar numa casa grande, fazer academia todo dia e sempre jantar fora às sextas-feiras. Conseguiu, mas José não lava as próprias cuecas. Tudo o que José queria era jogar futebol aos domingos com os amigos, tomar chopp gelado, jogar sinuca durante a semana no intervalo do almoço e sempre tirar os trinta dias de férias. Conseguiu, mas Maria fala demais no seu pé de ouvido. Tudo o que Maria queria era ser elogiada pelo marido quando mudasse o visual, assistir a um filme legal no cinema nas noites de sábado, comer caranguejo e tomar caldinho de feijão (com bastante pimenta) na praia aos domingos. Conseguiu, mas José ronca muito. Tudo o que José queria era viajar sem destino em todo feriadão, brincar os quatro dias de carnaval, receber de presente uma grade de cerveja no aniversário

TUDO É CARNAVAL!

No começo, tudo é Carnaval! O que o outro diz é como um samba-enredo, que combina direitinho com a nossa escola. O sentimento obedece ao ritmo da bateria. A razão sempre fica em segundo plano, no rabo da agremiação. É sempre assim o início de um relacionamento. Tudo tem o tempero das mulatas, a leveza da porta-bandeira, a delicadeza do mestre-sala. É nota dez, até que um se acostuma com o outro. Até que se enxerguem os defeitos, as falhas nas alas. Aí entram os nossos jurados internos. Começamos a julgar o outro, a analisá-lo, a compará-lo com desfiles passados. Fulano não tinha isso. Não gosto disso que ele faz, ela é muito chata para tal coisa, e assim vamos desenrolando vários quesitos e tirando pontos, tirando, tirando... Sobra o quê? A realidade. Que está na outra ponta da avenida, na dispersão. Sem alegorias, sem plumas e paetês, sem máscaras, nos resta a massa real. Aquela que sempre esteve ali, mas antes era ofuscada pela eclosão contagiante de sentimentos da nossa escola de

CADÊ MARGARIDA?

Antônio já não sabia mais onde procurar a esposa. Em casa, os lugares mais limpos: cozinha, sala, sala-de-estar, quartos, banheiros, varanda. Ufa! O guarda-roupa, as gavetas, o armário da cozinha, o armário da área de serviço, todos, tiveram suas portas abertas e fechadas o equivalente a pelo menos um mês de uso normal. 'Onde diabos está Margarida?', perguntava-se ele, mentalmente. Margarida, esposa de Antônio, havia saído de casa pela manhã, para o supermercado. Só que já eram dez da noite e nada de ela voltar. O celular? Desligado. O telefone de casa? Nem um recado na secretária eletrônica. Era um sábado e Antônio estava desesperado. Telefonou para a mãe e contou o que estava acontecendo: - Meu filho! Você já procurou a polícia? - Não, mãe... - Mas tem que procurar, filho! Olha, estou indo pra aí para a gente ir na delegacia, nos hospitais, no IML... - Não é possível, mãe! Será que aconteceu algo de errado? Imediatamente a mãe de Antônio, dona Otaviana, tomou um táx

O GUARDA-ROUPA

Margarida teve uma surpresa quando viu o carro de Otacílio, seu marido, entrando na garagem. Ainda era quatro da tarde! Ele sempre chegava do trabalho às oito, nove horas da noite. Rapidamente, fechou a porta do guarda-roupa e foi recebê-lo com a mesma empolgação de sempre: - Oi, amor! Que surpresa? Chegou mais cedo! O que foi que houve? - Saudades! - Saudades? - Sim! Não posso ter saudades da minha esposa? - perguntou ele, dando um beijinho na testa dela. - Claro que sim! Você devia fazer isso mais vezes! - Lá vem você com seu senso crítico! Mas adoro isso, sabia? - Vem, vamos lá pra dentro. Já que chegou mais cedo... - Humm! O que eu mereço? - Logo, logo você vai saber! Margarida fê-lo ir logo para o banheiro, tomar um bom banho relaxante. Não deixou que ele chegasse perto do guarda-roupa. "Deixa que eu separo sua roupa, meu bem!" - antecipou-se, quando percebeu Otacílio fazer menção de que iria abrir o guarda-roupa. Facilmente convencido pela esposa,O

PALAVRAS QUE NÃO SÃO DITAS

Muitas vezes ficamos com um "bolo" na garganta por causa de palavras que queríamos dizer, mas não dissemos. Palavras que não são ditas poderiam nos livrar de muitos problemas, melhorar relacionamentos, dirimir dúvidas e até mesmo mudar uma imagem negativa que o outro teria de nós. Mas é preciso saber dizê-las. Se houver alguma dúvida sobre a eficácia delas, melhor mesmo é guardá-las para si. Por outro lado, palavras que não foram ditas, se faladas, podem ser catastróficas. Podem acabar tudo o que se vinha construindo. Muitas vezes, a sinceridade sem polidez é pior do que mil mentiras jogadas na cara. Às vezes é preciso não dizer essas palavras, pelo menos por um certo tempo. Precisamos digeri-las para mostrá-las ao outro sem a mortal dose de angústia e repugnância que elas causam a nós. Isso acontece muito nos relacionamentos amorosos. Muitas vezes o casal tem uma série de queixas um do outro. Não se fala nada. Às vezes se ensaia uma discussão, ambos conversam sobre um mo