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Mostrando postagens de julho, 2018

No velório de Aldemar, todo mundo tem o que falar

No velório de Aldemar, só a vela fica em silêncio... A casa de Aldemar estava cheia. Mas sempre vivia assim quando ele ainda respirava. Agora ele estava ali, naquele caixão com a portinha de vidro mostrando-lhe o rosto sereno. Talvez esse fosse o último dia em que aquela casa via muita gente. Aldemar era bem conhecido, não necessariamente querido, mas bem popular no sentido de ser uma pessoa do conhecimento de todos. Perto dali, ainda na sala, os cochichos: - Soube que ele tinha outra mulher e até teve um filho com ela. - E eles vêm para o enterro? - Não sei. Acho que a família oficial não iria querer, né? - Mas a esposa sabe? - Essas coisas... Acho que sempre sabe. No terraço, mais comentários: - Parece que ele devia a um agiota. Bronca grande! - É mesmo? E agora? Porque agiota nunca quer perder... - Acho que a família vai ter de pagar. - Mas eles sabem da dívida? - Não sei. Certamente a esposa sabe. Difícil não saber. Na frente da casa: - Dissera

Uma DR no restaurante

O Café Colombo estava cheio naquela noite de sexta. Rubem, Suzana e a filha deles, Lili, esperaram uns trinta minutos para conseguir uma mesa. Ao se acomodarem e fazerem o pedido, Lili, quatro anos, já mostrou quem dominaria o jantar: - Papai, por que você e mamãe não se separam? Rubem ficou surpreso, mas, acostumado com as perguntas intempestivas da filha, sorriu levemente e respondeu: - Mas por que teríamos de nos separar? Está tudo bem, filhota! - Por que os pais dos meus colegas na classe são separados. Só os meus que não são. Suzana, que arrumava as coisas em uma cadeira, interessou-se em puxar a conversa: - Filhinha, e você gostaria que papai e mamãe se separassem? -... - É, Lili! Você gostaria? Diz pra gente. - Na verdade, não sei. Suzana puxou mais: -  Mas se a mamãe e papai fossem separados você seria feliz? - Humm... Pelo menos teria assunto pra conversar com meus colegas. - E o que seus colegas falam dos pais deles? – Rubem já estava interessando-se pela conversa. - Ah! Eles

A incompletude do pensamento

O pensamento que sobe as escadas e não completa os degraus. O ensaio de dizer algo que não deveria ser dito. O desejo de conhecer algo tão parecido e ao mesmo tempo tão desconhecido. A teimosia em isolar o que parece ser como a água, que insistentemente contorna o caminho, adaptando-se aos obstáculos. Uma porta que está prestes a se abrir. Um vai-e-volta de decisões tão certas, que perdem a validade. Isso ou aquilo. Aqui ou lá. Agora ou nunca. Ou talvez. Será?

Para sempre

O para sempre existe. E existe para sempre. Mas há quem não acredite na longevidade do para sempre. Para esses, o para sempre dura até que algo atravesse o seu caminho e quebre a continuidade, findando-o. Esse raciocínio pode ser relacionado ao casamento, por exemplo. “Até que a morte os separe” já é uma quebra do para sempre. Será? Mas o para sempre não é apenas associado ao tempo. Há também o para sempre da intensidade. Feito amor de mãe, como diz Drummond, “é tempo sem hora, luz que não apaga”. E quando a mãe vai embora? Deus chama e Drummond diz que se pudesse baixaria um decreto para que ela aqui ficasse. Para sempre. Mas será que mãe deixa de ser mãe no outro plano? Ou é mãe para sempre? O para sempre também pode ser ligado a um estado de espírito. De alma. Quem é, por essência, leve, traz consigo essa mansuetude de forma infinita no ser. É um estado que dura para sempre, porque não tem vacilos. Não permite interrupções. Pode até ser abalado, mas não se quebra. Atravessa