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NA HORIZONTAL

Posição erótica. Na horizontal, todo mundo fica. Tudo é mais fácil e todos são iguais. Aquela mulher difícil, aquele homem misterioso, mas na horizontal caem as máscaras. As faces ficam face a face. O corpo fica no corpo a corpo. Embora essa nudez seja evidente, nem sempre os atores representam a si. Muitas vezes, na horizontal, querendo impressionar, são o que não são, mas gostariam de ser. Até quando sustentar isso na horizontal?

Posição convergente. Na horizontal, tudo se acalma. Aquela briguinha com o parceiro, a desconfiança de que outro ou outra ameaça a nossa posição, o medo de não ter mais a posse, tudo isso se desfaz na horizontal. Tem muito a ver com o lado erótico, mas é no lado emocional o seu forte. E a horizontal é expert em resolver conflitos amorosos.

Posição filosófica. Na horizontal, fechamos os olhos e nos entregamos a Morfeu, o deus dos sonhos da mitologia grega. Filho de hipnos, deus do sono. Mas, nem todo mundo se entrega a eles. Existem os parceiros da insônia que, na horizontal, se encontram com ela e a ela se entregam. Passam as noites revirando a cama, batendo as pálpebras. Não são sortudos como aqueles que batem na cama e dormem. Que podem passar o dia todo no maior estresse, mas na horizontal encontram realmente o sossego.

Posição dialética. Os nossos ancestrais não andavam de dois pés, mas de quatro. Éramos quadrúpedes e, provavelmente, não ficávamos na horizontal, nem quando dormíamos. Com o passar dos tempos, viramos os seres humanos como nos conhecemos agora. Passamos a ficar de pé, a andar eretos, a olhar o mundo de igual para igual, de cima para baixo e de baixo para cima, embora nem sempre nossas posições sociais nos permitam a agir do ponto de vista que estamos. Passamos agora grande parte do tempo na vertical, mas também na horizontal. Por mais que sejamos donos dos nossos passos, chega uma hora que precisamos nos render à posição horizontal.

Posição contraditória. Na horizontal, também não há espaço para perdedores. O mundo é dos mais fortes, diz o dito popular. E, sendo dos mais fortes, requer que estejamos de pé sempre, nos sentidos literal e figurado da palavra. Mas nem sempre ficamos de pé. Tem a danada da posição horizontal, que nesse caso é a adversidade. Mas o desafio está justamente aí: em permanecermos com o pensamento na vertical, mesmo estando na horizontal.

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