O pequeno Juliano estava a cismar embaixo do pé de jabuticaba do sítio de seus avós. Gostava disso o pequeno Juliano. Pensava mil coisas: em brinquedos novos, em acordar cedo e tomar banho para começar bem o dia, em estudar todos os dias e não acumular as tarefas da escola. Juliano pensava até quando tivesse uma namorada. Estava com oito anos Juliano, mas já planejava como ia ser quando fosse namorado de alguma menina. 'Vou ter que andar sempre arrumado. As meninas são tão arrumadas!', refletia.
Mas naquele final de tarde de domingo, dia bucólico, ainda mais bucólico porque ameaçava chover, estava Juliano pensando em algo incomum: cadáver. Isso mesmo, o tema dos pensamentos de Juliano era "cadáver". Mas não um cadáver específico e, sim, o cadáver de uma maneira geral. O cadáver enquanto ser existencial no planeta Terra. Juliano estava intrigado com o fato de todos nós virarmos um cadáver e falava com o pé de jabuticaba, o qual ele chamava de Macabéa:
- Engraçado, Macabéa, a gente nasce, cresce, briga com um monte de gente em casa - feito papai e mamãe - pra, no final, virar um monte de carne e ossos sem vida. E quando a gente está assim, que não presta para nada, nos enterram. Ficamos lá debaixo da terra para sempre. Todo mundo devia ter medo de virar um cadáver, não é?
Como se Macabéa respondesse na sua imaginação, Juliano replica:
- Eu sei, Macabéa, que a gente não é só de carne e osso. Mamãe fala que a gente tem alma, um negócio invisível que está dentro da gente e que não vai para debaixo da terra. Mas, veja mesmo, se as pessoas pensassem bem não faziam questão de muita coisa. Afinal, todos vamos virar um cadáver um dia. Tem gente que vira antes, tem gente que vira depois...
Mais uma vez Macabéa responde na mente de Juliano, ao que ele retruca:
- Eu sei disso. Só o nosso corpo vira comida de verme e o resto vai para o céu. O problema é que todo mundo parece que só se importa com o que os vermes vão comer. E se esquece do céu. Veja só: fazem enterros bem bonitos quando alguém famoso ou rico morre. O enterro do amigo de papai, mesmo, parecia uma festa. Antes do pessoal colocar o caixão embaixo da terra, teve até comida e bebida na casa do morto. E porque não fazem uma festa lá no céu?
- Tudo bem, Macabéa, que ninguém chega lá, mas a mamãe já foi lá e viu. Eu ouvi ela falando com um amigo lá do céu por telefone. Ela disse que ele levou ela lá pro céu.
Como Macabéa tivesse estranhado, Juliano logo esclarece:
- Acho que falei demais porque depois que eu disse isso para o papai, ele ficou furioso com a mamãe e me mandaram pra aqui, na casa do vovô, enquanto eles resolvem se mamãe vai ou não pro céu de novo. Acho que papai ficou com raiva porque mamãe visitou o céu e não levou ele.
Desta vez, Macabéa ficou em silêncio na mente de Juliano, que continuou:
- Não sei porque tanta briga. Se mamãe foi primeiro e viu como é, não tem porque papai ficar preocupado. A não ser que ele só acredite que viramos cadáver...
Mas naquele final de tarde de domingo, dia bucólico, ainda mais bucólico porque ameaçava chover, estava Juliano pensando em algo incomum: cadáver. Isso mesmo, o tema dos pensamentos de Juliano era "cadáver". Mas não um cadáver específico e, sim, o cadáver de uma maneira geral. O cadáver enquanto ser existencial no planeta Terra. Juliano estava intrigado com o fato de todos nós virarmos um cadáver e falava com o pé de jabuticaba, o qual ele chamava de Macabéa:
- Engraçado, Macabéa, a gente nasce, cresce, briga com um monte de gente em casa - feito papai e mamãe - pra, no final, virar um monte de carne e ossos sem vida. E quando a gente está assim, que não presta para nada, nos enterram. Ficamos lá debaixo da terra para sempre. Todo mundo devia ter medo de virar um cadáver, não é?
Como se Macabéa respondesse na sua imaginação, Juliano replica:
- Eu sei, Macabéa, que a gente não é só de carne e osso. Mamãe fala que a gente tem alma, um negócio invisível que está dentro da gente e que não vai para debaixo da terra. Mas, veja mesmo, se as pessoas pensassem bem não faziam questão de muita coisa. Afinal, todos vamos virar um cadáver um dia. Tem gente que vira antes, tem gente que vira depois...
Mais uma vez Macabéa responde na mente de Juliano, ao que ele retruca:
- Eu sei disso. Só o nosso corpo vira comida de verme e o resto vai para o céu. O problema é que todo mundo parece que só se importa com o que os vermes vão comer. E se esquece do céu. Veja só: fazem enterros bem bonitos quando alguém famoso ou rico morre. O enterro do amigo de papai, mesmo, parecia uma festa. Antes do pessoal colocar o caixão embaixo da terra, teve até comida e bebida na casa do morto. E porque não fazem uma festa lá no céu?
- Tudo bem, Macabéa, que ninguém chega lá, mas a mamãe já foi lá e viu. Eu ouvi ela falando com um amigo lá do céu por telefone. Ela disse que ele levou ela lá pro céu.
Como Macabéa tivesse estranhado, Juliano logo esclarece:
- Acho que falei demais porque depois que eu disse isso para o papai, ele ficou furioso com a mamãe e me mandaram pra aqui, na casa do vovô, enquanto eles resolvem se mamãe vai ou não pro céu de novo. Acho que papai ficou com raiva porque mamãe visitou o céu e não levou ele.
Desta vez, Macabéa ficou em silêncio na mente de Juliano, que continuou:
- Não sei porque tanta briga. Se mamãe foi primeiro e viu como é, não tem porque papai ficar preocupado. A não ser que ele só acredite que viramos cadáver...
Pra variar... muito bom!
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