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INSÔNIA

Diz o ditado popular que na horizontal tudo é mais fácil. Mas se esquecem que essa é a posição preferida Dela. Aliás, é só na horizontal que Ela chega. Bem antes do sono, afoita, ousada, chega chegando. Ocupando os espaços vazios sem medo da rejeição, tão peculiar nas pessoas que A carregam. E Ela é carregada não como um peso, mas como um fardo mesmo, um estorvo. Maldita! Maldita mil vezes! Uma vez um homem esbravejou na frente do médico, que lhe dava a penosa notícia da sua inexorável impotência sexual. O homem amaldiçoou a impotência. Mas, não sabia ele que, após essa triste constatação, teria que conviver com uma companheira mais lacerante: Ela. Inteira, disposta a atravessar com ele noites inteiras também. E atravessar noites é sua especialidade. Atravessa as madrugadas reinando absoluta! Sendo odiada, rejeitada, negada e lamentada. Não se importa. Não se importa porque é através da agonia dos outros que ela se mantém de pé, viva, na horizontal.

Engraçado como a vida é. Tantos problemas são resolvidos durante o dia, tantos desafios vencidos sob a luz do sol escaldante, no caso de muitos que laboram ao ar livre, mas é sob os ares calmantes da noite que tudo isso vira pingo d'água diante Dela. É difícil tê-la compulsoriamente como companheira. Quantas noites parecem infindáveis, imortais porque simplesmente Ela está presente? Não adianta chá, não adianta leite morno, não adiantam comprimidos. Nada! Porque Ela está imune a todos esses elementos. Tem defesas próprias. Não retrocede. Tortura quem Dela é apossado. É como se fosse uma corrente pesada que se faz arrastar pelo seu portador. Corrente pesada, penosa.

Finge-se que Ela não existe, que é só tensão, estresse, o café que foi tomado antes de ir para a cama. Antônio é uma de suas vítimas. Quando se deitou naquela noite brigou com a cama, remexendo-se de um lado para o outro procurado uma posição melhor. Mas, mal ele ia para um lado, Ela já estava lá esperando-o. Brigou também com o travesseiro, dobrando-o, desdobrando-o, voltando a dobrá-lo. Mas Ela está lá, enfronhada no travesseiro mais do que a própria fronha. Antônio desistiu. A guerra estava perdida. Resolveu ficar de olhos abertos a fitar a escuridão, a descobrir na escuridão as mais estranhas formas e figuras. Só fechou os olhos quando Tereza chegou, alta madrugada, de novo embriagada e não se sabe lá com quem estava. Mas Antônio sabia. Preferiu não comentar, não falar nada. Fechou os olhos fingindo o sono. O sono que não tinha.

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