O relógio despertou às seis da manhã. Como sempre, Josué já estava acordado, só esperando a autorização do rádio-relógio para levantar. Um ritual. Necessário e fisiológico. Levantar após o toque das seis horas. Passou o café, fritou ovos com bacon, pão. Comeu mecanicamente. Sete minutos. Foi tomar banho. Seis minutos. Ao sair do banho, encontrou Lúcia na cozinha. 'Bom dia!', disse ele. 'Oi! Já tomou café?', perguntou ela. 'Já. Hoje tenho uma reunião mais cedo. Tô correndo'. Respondeu ele. Ela já sabia que ele tinha tomado café. A louça suja denunciava. Ele não tinha reunião nenhuma mais cedo. Apenas uma desculpa. Apenas para ter o que falar e sair daquela conversa incômoda.
JOSUÉ
Um alívio quando entrou no carro e girou a chave. Metaforicamente, parecia a chave para uma libertação. Sair de casa era sair de um inferno. Um inferno sem fogo. Um inferno morno. Que não incomodava mais. O prazer já tinha ido embora há muito tempo. Tinha dado lugar ao dever. À rotina salvadora de segunda a sexta. 'Ainda bem que tenho o trabalho', pensava e não se referindo à necessidade do capital e, sim, agradecendo a ter outro lugar para ir, que não fosse a sua casa. Que não fosse encarar Lúcia. Encarar o que já tinha ido embora e ninguém tinha coragem de aceitar.
LÚCIA
Ela ficou lá, à mesa, sem vontade de tomar o café. Olhava para o nada e batia as pontas dos dedos na mesa. Vida parada. Coração parado. 'Se ao menos eu me apaixonasse de novo, teria coragem de dar um rumo diferente nas coisas', pensava sempre. Comeu sem gosto. Olho para a frigideira suja que Josué havia deixado. Pensou em como seria quando ele não a deixasse mais assim. Pensou em quando seria isso. Olhou para o calendário. Faltavam seis meses para ela completar 40 anos. Quando pensava nisso sentia um frio na barriga. 'Uma idade tão importante!', suspirou frustrada. Não tinha razão, pelo menos na situação em que estavam, para comemorar. Na certa, quando chegasse o dia, ele daria um 'feliz aniversário', depois do insosso 'bom dia' e pronto. E só. Seria o 15 de setembro mais sem sentido da sua vida. O dia em que completaria 40 anos dentro de um casamento fracassado. Parou de pensar. E foi para o trabalho. Suspirou aliviada quando encontrou os colegas do escritório.
Seis meses depois...
Lúcia tomou um susto quando acordou naquele 15 de setembro. Suas irmãs e seus sobrinhos entraram de supetão com um bolo cheio de velinhas e fazendo o maior barulho com aquelas vuvuzelas. Quando entendeu do que se tratava deu uma gargalhada e foi acompanhada do parabéns cantado por todos. Josué vinha logo atrás, dizendo: 'Pensou que eu não viesse, hein? Antecipei o voo!', disse ele. 'Só para não correr o risco de perder um pedaço do bolo, não é?', rebateu Lúcia. Eles estavam divorciados há dois meses.
JOSUÉ
Um alívio quando entrou no carro e girou a chave. Metaforicamente, parecia a chave para uma libertação. Sair de casa era sair de um inferno. Um inferno sem fogo. Um inferno morno. Que não incomodava mais. O prazer já tinha ido embora há muito tempo. Tinha dado lugar ao dever. À rotina salvadora de segunda a sexta. 'Ainda bem que tenho o trabalho', pensava e não se referindo à necessidade do capital e, sim, agradecendo a ter outro lugar para ir, que não fosse a sua casa. Que não fosse encarar Lúcia. Encarar o que já tinha ido embora e ninguém tinha coragem de aceitar.
LÚCIA
Ela ficou lá, à mesa, sem vontade de tomar o café. Olhava para o nada e batia as pontas dos dedos na mesa. Vida parada. Coração parado. 'Se ao menos eu me apaixonasse de novo, teria coragem de dar um rumo diferente nas coisas', pensava sempre. Comeu sem gosto. Olho para a frigideira suja que Josué havia deixado. Pensou em como seria quando ele não a deixasse mais assim. Pensou em quando seria isso. Olhou para o calendário. Faltavam seis meses para ela completar 40 anos. Quando pensava nisso sentia um frio na barriga. 'Uma idade tão importante!', suspirou frustrada. Não tinha razão, pelo menos na situação em que estavam, para comemorar. Na certa, quando chegasse o dia, ele daria um 'feliz aniversário', depois do insosso 'bom dia' e pronto. E só. Seria o 15 de setembro mais sem sentido da sua vida. O dia em que completaria 40 anos dentro de um casamento fracassado. Parou de pensar. E foi para o trabalho. Suspirou aliviada quando encontrou os colegas do escritório.
Seis meses depois...
Lúcia tomou um susto quando acordou naquele 15 de setembro. Suas irmãs e seus sobrinhos entraram de supetão com um bolo cheio de velinhas e fazendo o maior barulho com aquelas vuvuzelas. Quando entendeu do que se tratava deu uma gargalhada e foi acompanhada do parabéns cantado por todos. Josué vinha logo atrás, dizendo: 'Pensou que eu não viesse, hein? Antecipei o voo!', disse ele. 'Só para não correr o risco de perder um pedaço do bolo, não é?', rebateu Lúcia. Eles estavam divorciados há dois meses.
Adorei!
ResponderExcluirMuito bom!!!
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