"Na vida às vezes caminhamos como se numa prancha estivéssemos. Tipo aquelas pranchas de piratas que obrigam suas presas a andarem nelas para irem de encontro ao mar sem nada que lhes antepare. Só a vítima, a prancha e o mar. Eis uma situação-limite, diriam os filósofos. Mas temos opção antes que a prancha termine. Amores complicados são como pranchas de piratas. A cada passo, sabemos que estamos indo para um precipício incerto. Vamos encontrar o bom ou o mal. Em qualquer situação o medo nos acompanha. A cada passo, o medo está lá, desenvolvendo-se majestoso dentro das nossas almas, dominando-nos, mas deixando uma brechinha para por nós ser dominado. Nós é que às vezes não queremos sentir uma forçazinha que brota de dentro, que teima em dizer: 'nem tudo está perdido'. Mas preferimos só olhar para frente, para baixo e nunca para nós mesmos. O passado é um fardo que teimamos em carregar. Os mais sortudos desmistificam-no com o passar dos anos. Os mais sonhadores o colocam em uma redoma de vidro. Mas ele é necessário. O que seria do passado se ele não passasse? Transformaria-se em um futuro pretérito, ou em um presente sem futuro. Passado passou e continua passando. O passado está ali naquela prancha, só que atrás dos nossos passos. O problema é que quanto mais caminhamos levamos na sola dos sapatos as marcas das pegadas anteriores. Quando nos livraremos delas? O passado nos empurra. É o pirata malvado, justiceiro, acima do bem e do mal. Sucumbimos a ele como um peixe no anzol. Lutar pra quê, se ele está ali, imbricado em nós?”
- Gostei desse começo, querida!
- Ainda vou revisar, mas acho que estou no caminho certo.
- Sou muito orgulhoso de você! Meus amigos morrem de inveja quando digo que minha esposa é uma exímia escritora.
- Que amigos?
- O pessoal lá do trabalho.
- O Arnaldo acha isso também?
- Acho que sim, por quê?
- Por nada.
E continuou a escrever:
“O passado sempre volta. Mesmo que em forma de amigo, de colega de trabalho, até de amigo do casal. A pessoa está ali, longe de nós e tão perto de nossas fraquezas...”
- Gostei desse começo, querida!
- Ainda vou revisar, mas acho que estou no caminho certo.
- Sou muito orgulhoso de você! Meus amigos morrem de inveja quando digo que minha esposa é uma exímia escritora.
- Que amigos?
- O pessoal lá do trabalho.
- O Arnaldo acha isso também?
- Acho que sim, por quê?
- Por nada.
E continuou a escrever:
“O passado sempre volta. Mesmo que em forma de amigo, de colega de trabalho, até de amigo do casal. A pessoa está ali, longe de nós e tão perto de nossas fraquezas...”
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