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Guilhermina, a feia


Nunca fui de negar fogo
Até sou muito agitado
Mas com mulher feia não dá
O negócio fica travado

O nome dela é Guilhermina
Conheci num aniversário
Um amigo me apresentou
Quero matar esse salafrário
Fez a maior festa para a coitada
E colou em mim, a danada

Ela até tem um papo legal
Mas a embalagem não ajuda
Ao invés de aproximar
Faz a gente se arrepiar

Na boca faltam os dentes da frente
Quase ela não tem pescoço
A cara enruga quando ri muito
Mas como não sou um cara grosso
Fingi que é a Gisele Bündchen
Que estava ali no meu encalço
E a dose de uísque ajuda
A enfrentar esse percalço

A conversa até tava boa
Guilhermina de tudo falava
Política, futebol e rock
Qualquer assunto ela traçava


Guilhermina falou até
Da Seleção Brasileira
Disse que jogador assim
Parece resto de feira
Ao invés de fotografar
Devia se preocupar
Em chutar a bola pro gol
E nele acertar

E a conversa foi se alongando
Guilhermina danada falando
Tenho que admitir
Que do papo estava gostando

A festa ia a altas horas
Os convidados indo embora
Olhei procurando meu amigo
Não o vi mais, nossa senhora!
Estava eu lá e aquele mulher feia
O jeito era convidá-la
E fingir que era uma sereia

Quando saímos na rua
Ela pegou na bolsa uma chave
E de uma Hyundai cabine dupla
Acionou o alarme

E enquanto ela dirigia
Falava de Caetano a Reginaldo
Botando música no MP3
Do seu carrão importado

No caminho aquela conversa
Desaguou onde eu suspeitava
Ela me convidou pra conhecer
Alguns livros que colecionava
Na biblioteca da sua casa

E assim fui levado
Pra cama de uma mulher feia
E a noite foi maravilhosa
Acho que caí na sua teia

Guilhermina é um furacão
Me deixou uma carcaça
Nunca tive uma mulher assim
Sem vergonha de ser devassa

E agora estou eu aqui
Relembrando essa noitada
E desde aquele dia tento
Repetir a empreitada
Mas Guilhermina desconversa
E, sendo muito educada
Diz que está com agenda cheia
Me esnoba essa danada

E eu não consigo até agora
Sair com mulher nenhuma
Porque na hora H
Só lembro daquela que fez
O meu mundinho revirar

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