Pular para o conteúdo principal

O cartão de crédito


Dizem que cabra macho

É o que nunca desanima

Mesmo quando está cansado

Cumpre com rigor sua sina

Fazer de tudo pela mulher

Ser gentil que nem menina



Mas à dura custa cheguei

A uma ingrata conclusão

Cabra macho mesmo é

O que paga a fatura do cartão

O mínimo, nem pensar!

Tem que ser todo o listão

Das compras que a mulher fez

Sem nunca ser reclamão



Digo isso de carteirinha

Minha senhora é especialista

Em gastar o que tem

E o que não tem também vai na lista

Não se preocupa em pagar

Porque quando a fatura chegar

O besta paga. Quem manda

Casar com uma consumista?



Certo dia ensaiei

Impor uma filosofia

Disse a minha queridíssima

Que cartão só na agonia

E que ia fazer um empréstimo

Pra poder sair do sufoco

Evitando entrar numa fria



Depois de muita teimosia

Ela enfim concordou

Em segurar a compulsão

Tudo em nome do amor

Porque eu até ameacei

A me separar caso ela

Não carregasse esse andor



Passou-se alguns meses

E ela manteve o patamar

Gastou só o necessário

O supérfluo nem pensar

Admito que me admirei

Ela de nada reclamar



Mas depois de um tempo

A mulher deu um estremilique

Só chegava tarde em casa

Cheia de sacola chique

Eu fiquei me tremendo

Ai meu Deus! Voltou ao pique



Tinha dia que era sapato

Que se dedicava a comprar

Não sei quantos pés

Ela ia arrumar

Acho que dava o fim do ano

E todos ela não ia usar



Outro dia ela entrou

Com uma sacola da Daslu

Na hora pensei logo

Vou engolir um angu

Essa conta pra pagar

Vou ter que a minha alma

Pro diabo arrendar



Eu perguntava nervoso

Já perdendo a paciência

Se ela tinha esquecido

Da nossa iminente falência

E ela dizia pra eu relaxar

Que tudo ia melhorar



Sabe o que aconteceu

O fatura chegou

Quase tive um susto

Quando vi que zerou

Nada eu ia pagar

Mas e as compras que eu vi

Na minha casa entrar?



Um amigo meu falou

Na verdade aconselhou

Que eu nada perguntasse

Sobre quem tudo pagou

E ainda me alertou

Que eu revisse a decisão

De voltar a deixar minha esposa

Usar e abusar do meu cartão




Agora tudo voltou ao normal

A conta só faz aumentar

E o meu pobre dinheirinho

Eu só vejo é minguar

Mas melhor assim do que

Um chifre na cabeça morar

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Duelo com Satã

Quando a areia repousa no fundo do lago, cria-se a falsa sensação de que as coisas estão em paz. Nos seus devidos lugares. A questão é que a areia e a água do lago não são permanentes. A areia precisa de algo, de uma força que lhe é externa, ainda que dentro do lago, para lhe tirar do lugar. O lago, a seu turno, acomoda ou incomoda um ecossistema que lhe é natural, mas não é permanente. Sofre as ameaças dentro da sua concha e fora ela. O que importa, em um final que nunca termina, é que nada fica do mesmo jeito que sempre foi, ou que sempre é. O que vai em nossa alma também é assim. O documentário "Alma imoral", baseado no livro de Nilton Bonder, trata sobre essa impermanência. Essa oscilação que se move graças a tudo que transgride as regras. Ou tudo que transcende-as. Dá no mesmo, no final. Transgredir é transcender. A segunda pode parecer mais "católica", sim, é. Arrematada pela filosofia medieval, que se apropriou do Homem e de Deus. Em ambos os caminhos, revo...

AMOR LONGE

Não tem coisa mais frustrante Do que namorar de longe Um lá e outro aqui Que nem freira e monge Dizem que a distância aumenta No coração a saudade Mas se você tem urgência Tem que sair da cidade Numa situação dessa É aconselhável pensar Viver junto daria certo? Melhor não especular Já diz um velho ditado Quem casa, quer casa Mas nos tempos de hoje Quem casa, descasa! Porém não quero que pensem Que sou contra o casamento Dormir junto é muito bom Mas pode ser só momento Se você não escolher bem Com esse tormento convive E pra quem namora de longe Disso já está livre Mas livre não está Quando a carência bater O jeito é apelar Pra internet resolver Pela web se conversa Por texto, vídeo e áudio Riem, brigam e choram Depois, cada um pro seu lado Mas também é vantagem Viver um amor assim Aparecem outras pessoas Pra aliviar a fase ruim Agora vamos ser justos Não é legal enganar Se alguém é só um escap...

A diaba e a anja

No Centro do Recife Uma vez se encontraram Uma anja e uma diaba Muito alegres se falaram Mas a coisa entornou Quando elas começaram A discutir sobre o amor Toda prosa a anja disse Que no amor acredita E a coisa mais linda Que ela acha da vida São dois apaixonados Numa união bendita A diaba gargalhou Ao ouvir aquela asneira Disse que isso não passa De uma grande besteira Porque quem acredita no amor É mais cego que uma topeira Na verdade amor não passa De desculpa de apaixonado Para não ter que se lamentar Por amor ter se casado E ainda para completar A diaba disse que se o amor Fosse extraordinário Ninguém sentiria a dor De ter sido feito de otário Porque a coisa mais fácil De quem está com um amor É logo descobrir que Com outro ele busca o calor Ao ouvir aquilo tudo A anja empalideceu Mas até que da diaba Ela se compadeceu Disse que ela pensava assim Porque o seu frio coração Por amor nunca arrefeceu A diaba riu outra vez Daquela situação Disse que em matéria de amor Tinha até...