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Carta para Papai Noel

Querido Papai Noel, quando eu me entendi de gente, acho que com uns cinco anos, botaram na minha cabeça que você existia. Também, pudera. Mamãe e papai sempre botavam presentinhos aos pés da minha cama depois de me convencer a botar as meias na janela. Eu nunca entendi direito porque tinha que colocar as meias, já que os presentes nunca cabiam nelas. E como é que você conseguia deixar os presentes aos pés da minha cama se eu dormia de janelas trancadas? Bom, mas deixei isso pra lá. O fato é que com cinco anos em diante eu passei a ter uma relação mais próxima com você. Não precisava do incentivo dos meus pais para deixar as meias e eu mesmo fazia isso. Já sabia escrever e então eu passei a escrever cartas para você, com os meus pedidos. Muitos impossíveis, hoje eu sei, mas outros perfeitamente realizáveis, tanto é que você atendia: bicicleta, patins, skate, video game, enfim, esses eram presentes fáceis. Mas aqueles outros que eu pedia para acabar com a fome daquelas criancinhas que mendigavam nas calçadas, você não atendeu. Depois eu soube que aquelas crianças, que eu sempre via quando ia para a escola, morreram de tiro pela polícia.

Depois, Papai Noel, quando eu tinha quinze anos, já sabia que você não existia, mas mesmo assim mantive essa fantasia na cabeça. Acho que é melhor viver sonhando do que não sonhar por não acreditar mais em nada. Mesmo assim você me deixou na mão. Lembra daquela aposta que fiz com o Fabinho, que ia ficar primeiro do que ele com uma menina? Pois é. Perdi. Fabinho ficou primeiro e eu... Fiquei a ver navios, ou melhor, nem as suas hienas eu vi. Você me deixou na mão de novo, Papai Noel. Vai ver que é porque você nunca namorou, nunca casou. Vai ver até que é virgem ainda, né? E não me venha dizer que é casado com a Mamãe Noel não, porque eu já sei que ela é uma prima sua, considerada irmã até. Solteirona, assim como você.

E agora, Papai Noel, eu estou aqui, com trinta anos, prestes a me casar. Espero, seu velhinho de uma figa, que você não me deixe na mão, pois o que eu quero é pouco. Minha futura esposa é uma pessoa maravilhosa, mas o senhor sabe como é mulher, né? Ou melhor, não sabe, mas deve saber pelas histórias dos outros. Eu não confio em mulher. Muito boazinha agora, mas depois ficam cheia de direitos e de asas para voar. Por isso, Papai Noel, eu só peço uma coisa: que a minha esposa seja fiel. Será que é pedir demais, Papai Noel?

Vinte anos depois....

Olha aqui, seu velho idiota, vê se não pisa na bola agora, tá? Vou me juntar com uma desquitada. Ela é cinquentona feito eu. Não é possível que ainda tenha fogo para mais de um homem. Só quero uma coisa e não é a fidelidade dela não, que eu já sei que é impossível. Mas que pelo menos ela seja fiel até terminar a maldita lua-de-mel!

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