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A diaba e a anja



No Centro do Recife
Uma vez se encontraram
Uma anja e uma diaba
Muito alegres se falaram
Mas a coisa entornou
Quando elas começaram
A discutir sobre o amor

Toda prosa a anja disse
Que no amor acredita
E a coisa mais linda
Que ela acha da vida
São dois apaixonados
Numa união bendita

A diaba gargalhou
Ao ouvir aquela asneira
Disse que isso não passa
De uma grande besteira
Porque quem acredita no amor
É mais cego que uma topeira

Na verdade amor não passa
De desculpa de apaixonado
Para não ter que se lamentar
Por amor ter se casado

E ainda para completar
A diaba disse que se o amor
Fosse extraordinário
Ninguém sentiria a dor
De ter sido feito de otário
Porque a coisa mais fácil
De quem está com um amor
É logo descobrir que
Com outro ele busca o calor

Ao ouvir aquilo tudo
A anja empalideceu
Mas até que da diaba
Ela se compadeceu
Disse que ela pensava assim
Porque o seu frio coração
Por amor nunca arrefeceu

A diaba riu outra vez
Daquela situação
Disse que em matéria de amor
Tinha até pós-graduação
Já foi casada seis vezes
Em todas elas sofreu
E de agora em diante
Não queria ninguém só seu

Nos seis casamentos
Que a diaba vivenciou
Em cada um o marido
Por outra a trocou

O pior é que a dita cuja
Nem chegava aos seus pés
Sempre era uma piriguete
Que não valia um conto de réis

E agora que ela já tinha
Provado o gosto ruim da vida
Agora não dá ao pretendente
Mais que um mês de guarida
Quando completa os trinta dias
Manda o cabra pastar
A não ser que ele queira
Vê-la sua cabeça enfeitar

A anja ouvindo
Toda aquela narração
Passou a desejar
Da diaba aquela condição
Entregou os pontos à rival
E perguntou, na moral
Como é que fazia
Para ser a tal

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