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O cético e o monge

- Você, nessa vida de contemplação, acha que é feliz. Pois eu acho que felicidade não existe. O que existem são momentos felizes como diz o ditado, ou alguma música aí que eu não lembro - disparou o cético, certo que de ia ganhar aquela batalha ideológica logo no primeiro round.
- A felicidade são justamente esses momentos felizes - respondeu o monge, numa simplicidade gigantesca.
- Ah, é? Então me diga uma coisa: uma pessoa que se julga aparentemente feliz e descobre que tem uma doença grave, perde o emprego ou alguma coisa assim? Ela não vai ficar triste? - provocou o cético.
- Tudo na vida é uma questão de ponto de vista - disse o monge.
- Ponto de vista? Então você vem com o papo de que tudo depende de como a pessoa enfrenta a situação, tem que ter cabeça erguida, otimismo... Pois saiba que otimismo é irmão gêmeo do pessimismo!
- O pessimismo nos prova todos os dias a força do otimismo - (nem preciso dizer quem foi que disse isso, não é?)
- Prova como? Só se for naqueles livros de autoajuda que você deve adorar!
- Quem não lê, não se lê.
- Enigmático você, hein? Vamos conversar por provérbios, é? Então segura esse: quem espera, sempre cansa.
- A espera ensina.
- Ensina o quê, cara-pálida? A tolerância, a paciência e blá, blá, blá...???
-  Ensina a esperar.
- Esperar pelo quê? Tudo piorar?
- Esperar por outro dia.
- Tá bom. Vou agora lhe dizer uma coisa: minha mulher está grávida e eu tenho dúvida se o filho é realmente meu. Como devo agir? Agradecer por essa provação?
- O filho é meu - respondeu o monge.
- Como?
- Isso que você ouviu. O filho é meu.
- Mas... você...
- Está vendo? Você abandonou a confiança. Até em relação a mim você desconfiaria de sua mulher.
- Mas eu tenho evidência.
- Provas?
- Não.
- Então cuidado. Quando olhamos no escuro, vemos coisas que não existem.
- E o que você me aconselha, "Mestre dos Magos"?
- Volte para casa, para o seu lar, para você mesmo. Procure a tranquilidade e tudo vai se mostrar como é na verdade.

O cético, mesmo sem acreditar muito naquilo, fez o que o monge aconselhou. Só voltaram a se ver quarenta anos depois:
- Bons conselhos você me deu naquele dia.
- Como você está?
- Amo o meu filho. Mas ele não se parece comigo.

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