Josué estava especialmente romântico
naquele dia. Completava cinco anos de casamento. Bom gourmet que é, resolveu
fazer uma macarronada especial para jantar em casa mesmo, no aconchego do lar,
com o acompanhamento de um bom vinho. Ia
ser tudo como regem os conformes: luz de velas, meia-luz e um CD tocando
músicas românticas instrumentais, com o som no volume 7, para criar ‘O Clima’.
Foi ao mercado comprar os ingredientes.
Não se esqueceu de nenhum:
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Uma lata de carne moída magrinha, magrinha, bem macia e sem gordura.
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Margarina sem gordura trans, cuja embalagem tem aquela velha foto da família
feliz. (para dar sorte).
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Uma lata de milho verde bem amarelinho, também sem gordura trans.
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Maionese, molho inglês e sal com baixo teor de sódio. Para dar aquele “tchan”.
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Uma lata de molho de tomate Cor da Paixão. (esse é o nome da marca mesmo)
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Creme de leite e ervilha. (estes ele comprou em caixa por que eram mais baratos)
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Uma lata de legumes selecionados. (o preço é salgado, mas por Andrea valia a
pena).
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Duas latas de salsicha tipo Viena, que é chique.
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E o principal: um pacote de macarrão do tipo talharim, mas de uma marca
italiana, que também é chiquéééérrimóóóó!
Antes de começar a preparar os pratos,
certificou-se de que Andrea só ia chegar lá pelas sete da noite. Assim, iria
cozinhar com tranquilidade. Tudo confirmado, ele ligou o som já com o CD
romântico, acendeu um incenso para harmonizar o ambiente e pôs-se a preparar a
macarronada especial.
-
Pegou as salsichas e picou bem picadinhas. Elas quase ficaram imperceptíveis.
Apenas uma leve lembrança do que eram. Enquanto isso, já colocou o talharim
para cozinhar. Água, sal e um tantinho de óleo acompanharam a massa. Em
seguida, já tomando uma taça de vinho e lembrando-se dos primeiros meses de
casamento - quando Andrea acordava de noite chorando com saudade da mãe-, pegou
a carne moída, misturou com a lembrança das salsichas picadas e temperou com
pimenta amor, pimenta de cheiro, sal, alho e cebola picada. Josué adorava um
picadinho. Colocou a carne para cozinhar e adicionou o molho de tomate. Quando
a carne e o macarrão estavam prontos, Josué juntou os outros ingredientes e fez
uma mistura só: o milho, a maionese, o creme de leite, os legumes selecionados,
etc e tal, e ainda um toque de rúcula e manjericão, devidamente picadinhos. Ainda
deu uma fervura básica e, pronto, estava feita a macarronada do amor.
Lá
pelas tantas, já alta madrugada, Andrea telefonou e Josué não atendeu. Bêbado,
estava dormindo no sofá da sala, com o CD repetindo sem parar as músicas
românticas, com som no volume 7. A macarronada? Estava fria. O que Andrea
queria e por que ela não chegou? Não sei. Só Josué soube no outro dia e não
quis falar pra ninguém. Acho que aí tem coisa!
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