O professor Marivaldo estava especialmente inspirado naquela tarde. Finalmente havia resolvido escrever o livro sobre a vida íntima dos pássaros. Largou mais cedo da faculdade e durante a caminhada de volta para casa passou pela confeitaria. Estava lotada. ‘Seria razoável tomar um café e rabiscar algumas ideias para o livro’, pensou ele. Entrou na confeitaria. Pediu um lugar o mais isolado possível, um canto de parede. Teve sorte. Esperou só dez minutos até que vagou uma mesa. Era conjugada com outra, de duas cadeiras, mas tudo bem.
Pediu um café e alguns pães de queijo. Pegou o bloquinho de anotações, posicionou os óculos de leitura e aguardou a inspiração. Eis que justo nesse momento uma mulher bastante elegante, óculos escuros na cabeça, de bolsa e sapatos amarelos aparece na sua frente com duas crianças, de uns sete, oito anos:
- Olá, senhor! Tem alguém nessa mesa ao seu lado?
- Não.
- Obrigada!
Rapidamente, a mulher sentou-se com as crianças e foi logo dando “a real” do que seria aquele momento aprazível do professor:
- Vai, Rafinha, vem mais pra cá para gente fazer uma selfie pra mandar pra tia Suzana!
E a mulher esticou o braço com o celular para fazer a foto, quase batendo no rosto do agora estupefato professor Marivaldo.
A sessão de horror não parava por ali. Além das sucessivas selfies malsucedidas, a mulher e os filhos não cabiam naquela singela mesa da confeitaria. Em fração de segundos, para não poluir a foto, colocaram o porta-guardanapo, o adoçante, o açúcar etc. na mesa do surpreso professor. Ele respirava fundo e pensava: ‘Sou um cavalheiro, um respeitável professor. Não posso perder minha valiosa paciência com essa mulher toda enfeitada’. Eis que nessa luta reflexiva chega o garçom:
- Seu café e os pães, senhor!
O professor Marivaldo já tinha até se esquecido do pedido. Bom, já que não tinha jeito, começou a tomar o café e a mastigar os pães. Pegou o bloco de anotações e iniciou um texto, que nada tinha a ver com o seu livro sobre a vida íntima dos pássaros. Terminou o conto assim:
Depois de ser capturada pelos homens do zoológico, a mãe e seus filhotes foram colocados na jaula, sob os holofotes da imprensa, que não parava de fotografar aquela cena bizarra na confeitaria.
Pediu um café e alguns pães de queijo. Pegou o bloquinho de anotações, posicionou os óculos de leitura e aguardou a inspiração. Eis que justo nesse momento uma mulher bastante elegante, óculos escuros na cabeça, de bolsa e sapatos amarelos aparece na sua frente com duas crianças, de uns sete, oito anos:
- Olá, senhor! Tem alguém nessa mesa ao seu lado?
- Não.
- Obrigada!
Rapidamente, a mulher sentou-se com as crianças e foi logo dando “a real” do que seria aquele momento aprazível do professor:
- Vai, Rafinha, vem mais pra cá para gente fazer uma selfie pra mandar pra tia Suzana!
E a mulher esticou o braço com o celular para fazer a foto, quase batendo no rosto do agora estupefato professor Marivaldo.
A sessão de horror não parava por ali. Além das sucessivas selfies malsucedidas, a mulher e os filhos não cabiam naquela singela mesa da confeitaria. Em fração de segundos, para não poluir a foto, colocaram o porta-guardanapo, o adoçante, o açúcar etc. na mesa do surpreso professor. Ele respirava fundo e pensava: ‘Sou um cavalheiro, um respeitável professor. Não posso perder minha valiosa paciência com essa mulher toda enfeitada’. Eis que nessa luta reflexiva chega o garçom:
- Seu café e os pães, senhor!
O professor Marivaldo já tinha até se esquecido do pedido. Bom, já que não tinha jeito, começou a tomar o café e a mastigar os pães. Pegou o bloco de anotações e iniciou um texto, que nada tinha a ver com o seu livro sobre a vida íntima dos pássaros. Terminou o conto assim:
Depois de ser capturada pelos homens do zoológico, a mãe e seus filhotes foram colocados na jaula, sob os holofotes da imprensa, que não parava de fotografar aquela cena bizarra na confeitaria.
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