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A hora perigosa?

Poucas coisas nos capturam tanto quanto o pôr e o nascer do sol. A hora do crepúsculo é-nos mais desafiante porque nos testa com suas metáforas. É preciso ter alma e olhos teimosos para vencer esse mal-estar cinzento da civilização. Porque a metáfora da hora crepuscular traz uma marca, traz um cheiro dominante de fim. Mas será que é em si dominante ou é nosso inconsciente que teima em assim revesti-lo? A perigosa hora, que tira Ana, de Clarice, da zona de conforto, pode bem ser a melhor hora. A hora boa. A melhor hora. A melhor hora... a melhor. A hora de deitar-se na varanda e contemplar a imagem da tarde esvaindo-se. Levando consigo a luz do dia, mas prometendo, em si, outra luz ao alvorecer. Mas a melhor hora sempre tem que ir, porque o alvorecer se aproxima. Pede passagem. O alvorecer sempre pede passagem... mas só pede. O alvorecer precisa de nossa permissão. Permissão para deixar a noite ir embora. Mas entre o alvorecer e a noite há o entardecer. Uma hora infinita. Difusa. Aberta a interpretações. Nem dia inteiro, nem noite certa. A melhor hora é o que dela fazemos... quando a contemplamos da varanda. 

Fim (sempre sujeito a alterações... porque fim não há, mas isso fica para outra história)

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